Com o avanço da contagem dos votos na eleição presidencial da Argentina, ficou clara a vitória do candidato Javier Milei. Em entrevista coletiva, o candidato da esquerda, Sergio Massa, comunicou que já telefonou a Milei reconhecendo a derrota.
Durante seu programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores do governo Bolsonaro, analisou a situação da Argentina às vésperas da eleição presidencial e explicou as propostas de Milei para mudar a situação do País. O embaixador lembrou aspectos da trajetória do candidato Javier Milei e apontou as vantagens de um candidato que não faz parte da velha política. Araújo disse: “uma pessoa de várias dimensões, que traz experiências de coisas diferentes. Eu acho que isso é uma coisa vital. A gente precisa para o Brasil também. O país precisa tirar a política da mão dos políticos, da mão da classe política, dessa classe que nasce fazendo política que o pai fazia. O avô fazia, então que entra na política desde cedo e vai subindo no corruptariado brasileiro, no corruptariado argentino e aprendendo ali a fazer os conchavos da política”.
Ernesto Araújo apontou que Milei “foi uma pessoa antes de ser um candidato e com uma linha de pensamento que ele desenvolveu com os seus estudos, com a sua experiência de economia argentina, sobretudo, que é a linha libertária de você ter uma redução drástica do Estado e, no fundo, colocar a sociedade acima do Estado, fazer do Estado simplesmente um servo da sociedade e não o contrário, que é o que existe hoje na maioria dos lugares”.
O embaixador apontou o contexto vivido por aquele país, em que o fracasso econômico destrói a esperança dos jovens. Ele disse: “A juventude argentina está toda saindo para a Europa, para os Estados Unidos. Não só a juventude, mas também os profissionais mais graduados, digamos assim. Quem tem condições de sair da Argentina sai, pois o processo é semelhante ao que se viu na Venezuela. Todo mundo que tinha um nível que permitisse fazer alguma coisa em outro país saiu. Mas mesmo sem isso, tem um amigo argentino contando que um colega dele, formado em engenharia, está na Austrália. Está lá numa fazenda de kiwi, colhendo kiwi na Austrália, mais feliz do que estava na Argentina”.
Ernesto Araújo alertou que o Brasil está no mesmo caminho: “o Brasil está chegando lá e é um país que se pulverizou. A gente não parece que está nesse estado adiantado de pulverização. Deixa de ser um país. A pessoa está, tem o passaporte daquele país, mas querem sair e não se identifica com aquele conjunto. Não é uma sensação de que se está indo para algum lugar. A sensação é de que se está sobrevivendo de um dia para o outro. Se é para sobreviver, então para viver melhor num outro lugar”.
O embaixador explicou como agem os governos da extrema-esquerda: “Eles dão benefícios sociais pequenos, mas acham que vai garantir o voto das pessoas. Isso perpetua o sistema, imprime mais dinheiro, mais inflação, mais decadência econômica, mais gente sai, mais emprego se perde, mais gente depende do governo, mais gente vota no governo para receber esses auxílios. O círculo totalmente vicioso”.
Ele lembrou que a Argentina tinha condições de atrair investimentos e se posicionar nas cadeias globais de valor, tendo em vista o grau de instrução da população, mas manteve sua economia fechada e não entrou no circuito internacional justamente por essa política de dependência. Araújo explicou: “assim como no Brasil, o fechamento comercial é amigo da corrupção e, inversamente, a abertura comercial é inimiga da corrupção. É um dos bons remédios contra a corrupção. Faz parte do tratamento, não é o único remédio necessário, mas o tratamento contra a corrupção exige grandes doses de abertura comercial, abertura de serviços, aberturas de licitações públicas”.
Ernesto Araújo relembrou as tentativas do Brasil e da Argentina de entrar para a OCDE, nos governos Bolsonaro e Macri, apontando que participar de organismos como esse é também uma forma de prevenir corrupção, e por isso os governos de esquerda não avançam com as negociações. Ele mencionou que, no caso do Brasil, a acessão foi praticamente interrompida devido à anulação de provas da Lava Jato.
O embaixador comparou as novas versões propaladas sobre a Lava Jato à antiga “Grande Enciclopédia Soviética”, que já era projetada para ir sendo alterada com “atualizações” que mudavam o passado. Ele comparou: “no Brasil, a gente está meio assim. (...) Até pouquíssimo tempo atrás tinha o verbete Odebrecht. A Odebrecht tinha o Departamento de corrupção, todo mundo sabe. E corrompeu pessoas no Peru, na Colômbia, no Equador, na Argentina, na Bolívia. Foi usada para todo tipo de coisa. E então estava lá. Aí o dia chegou. Aí bateram na porta: 'Está aqui uma atualização da Grande Enciclopédia Soviética Brasileira'”.
Araújo explicou que, embora tenham poder para apresentar narrativas no Brasil, a OCDE não se convenceu com a “atualização da enciclopédia soviética”. Ele disse: “O pessoal achou muita graça nessa nova ficha. O que vocês estão fazendo? Estão deixando de combater a corrupção? Vocês estão criando um ambiente mais favorável à corrupção? É isso que o Brasil está fazendo?”.
Retomando o tema da Argentina, Ernesto Araújo explicou como o medo foi incutido na população para minar a candidatura de Milei, mostrando como os “benefícios” que o povo recebe causam um ciclo de pauperização e sucateamento dos serviços públicos.
Ernesto Araújo explicou ainda que o problema não se limita à Argentina e ao Brasil, porque há falta de modelos de países sem a cultura da dependência. Ele apontou que Argentina e Brasil são casos bastante extremos, mas mesmo nos EUA, as pessoas estão perdendo confiança. Ele disse: “A pessoa não tem mais confiança no seu país, e, com isso, também não tem confiança em si mesmas”. Ele prosseguiu explicando que, enquanto a confiança desaba em países de democracias antigas, os países totalitários avançam na economia mundial e são vendidos como modelos.
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