sexta-feira, 29 de março de 2024

Embaixador Ernesto Araújo analisa escalada de tensões após Maduro cercar embaixada da Argentina e cortar luz e água


Durante transmissão ao vivo, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, analisou as atitudes da ditadura venezuelana após opositores se refugiarem na embaixada argentina em Caracas. Ele explicou: “se refugiaram lá, obtiveram esse refúgio, e o governo venezuelano está cercando esse pessoal, está cercando a embaixada, e agora há pouco eu vi a notícia de que tinham cortado a luz e água da embaixada, o que é totalmente ilegal, totalmente contra a Convenção de Viena, totalmente brutal e contra as regras mais básicas da convivência internacional”.

“As pessoas se refugiaram na embaixada. Há sempre essa discussão. O governo local sempre vai falar que eles são procurados pela justiça comum, que a embaixada não pode acobertar isso e tem de entregar. A embaixada responde que não e, assim, segue o processo”. Araújo explicou que, embora esse tipo de debate seja normal, a reação de Maduro foi anormal: “não pode o governo local, o regime local, cortá-los na embaixada como uma forma de intimidar, como uma forma de forçar a embaixada a vir entregar essas pessoas que se refugiaram lá, que é obviamente o que está acontecendo”. Ele complementou: “só um regime ditatorial que faz isso de, no fundo, sitiar uma embaixada estrangeira. Pode colocar polícia em volta, o que quiser, mas não pode intimidar, dessa maneira, uma representação diplomática”

O embaixador explicou o contexto que levou os opositores a buscarem refúgio. Ele lembrou: “Isso nos leva ao seguinte: o regime Maduro que está rumando para se consolidar numa eleição presidencial em julho próximo”. Araújo explicou: “Maduro está manobrando há bastante tempo, há vários meses, para realizar essa eleição sem nenhum candidato de oposição viável. São totalmente de cartas marcadas, mas vender essa eleição como algo legítimo, que o torne mais aceitável para a comunidade internacional, esse, a meu ver, é o grande projeto hoje do Maduro”. 

Ernesto Araújo explicou os mecanismos utilizados por Maduro: “Ele já tinha removido os direitos políticos da Maria Corina Machado, que numa eleição minimamente limpa ganharia a eleição do Maduro”. O diplomata explicou que Maduro sugeriu que María Corina Machado indicasse um substituto, mas, quando a substituta foi formalizar sua candidatura, não conseguiu. 

Araújo relatou: “Vários outros candidatos de oposição controlada e de oposição fajuta se registraram. Ela, por algum motivo, ninguém se saiu muito bem, e deu pane no sistema. E eu li em algum lugar, também, que colocaram os capangas lá do Maduro para não deixar ela e o grupo dela chegarem nem perto do Tribunal Eleitoral. Ou seja, não deixaram ela se registrar, nem se preocuparam muito em dar nenhum tipo de desculpa. Encerrou-se o prazo. Ontem encerrou-se o prazo para o registro de candidaturas. Ela, portanto, não conseguiu, não conseguiu concorrer e, do jeito que está, Maduro vai concorrer praticamente sozinho. Tem alguns candidatos de oposição, mas o único que teria chance seria a Maria Corina Machado e seria uma oposição autêntica”.

Ernesto Araújo criticou os comentários de Lula, que ridicularizou o drama da candidata, e apontou que, após o impedimento da substituta, até mesmo Lula teve que simular alguma indignação com os métodos de Maduro. O diplomata apontou que, ao mesmo tempo, iniciava-se a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Brasil, e que isso atraiu mais atenção para as posições dos dois chefes de governo em relação à Venezuela. 

Araújo disse: “qual é o recado que um país como a França, com respeitabilidade internacional, tem de dar a respeito da Venezuela? O Macron já se encontrou com Maduro, já fez carinho no Maduro, e agora, obviamente vem para fazer muito carinho no Lula e no Raoni”. O embaixador comentou que, apesar das expectativas, Macron não contestou a atitude de Maduro. E explicou: “Então, esse esquema global de legitimação de tiranias está funcionando muito bem”.

O diplomata ponderou: “é triste ver um país como a França, o presidente de um país como a França, se prestar a facilitar as coisas, aveludar o caminho de alguém, tanto como Lula quanto como o Maduro. E esse é um dos grandes problemas que nós temos hoje na luta contra as tiranias. É que países tradicionalmente democráticos, por toda uma série de inversão de valores e de amizades, sabe-se lá do que mais, não se opõem, realmente, às verdadeiras tiranias”.

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