quarta-feira, 15 de maio de 2024

Embaixador Ernesto Araújo comenta fatores para ‘pavor’ de tiranos após audiência no Congresso dos EUA sobre o Brasil


Durante transmissão do programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, expôs os motivos do interesse dos parlamentares americanos na situação de violação de direitos fundamentais no Brasil, promovida pelo judiciário controlado por Alexandre de Moraes. As violações de direitos humanos no Brasil já motivaram uma entrevista coletiva com parlamentares e, na semana passada, uma audiência pública no Congresso daquele país, onde foi exposta a censura promovida por Moraes e a interferência nas eleições de 2022. 

O embaixador Ernesto Araújo disse: “A Câmara de Representantes americana está olhando com muita e crescente atenção para o que está acontecendo no Brasil, com uma preocupação múltipla, também: a preocupação, de um modo geral, com a decadência dos direitos humanos e, especificamente, da liberdade de expressão, essas liberdades básicas, no Brasil, que significa a queda dessas liberdades num país importante no mundo, que significa um mundo, portanto, com menos liberdade, ou seja, um mundo mais favorável aos projetos totalitários, que são contrários ao projeto fundacional americano”.

Araújo lembrou: “os Estados Unidos são ainda um país que, apenas através de alguns canais, como sobretudo os republicanos no Congresso, olham para o mundo e estão sempre tentando monitorar onde as ameaças à liberdade estão avançando, porque sabem que um mundo onde os Estados Unidos estiverem cercado de totalitarismos será um mundo que provavelmente levará os Estados Unidos também para o caminho do totalitarismo”.

Ernesto Araújo explicou como, desde sua fundação e ao longo de sua história, os Estados Unidos fundaram sua noção de país na defesa da liberdade e da democracia. Ele explicou que a prática nas relações exteriores era a de considerar apenas a força militar e econômica dos outros países, ignorando quaisquer problemas ou qualidades internos a cada país. Com a fundação de um país baseado na liberdade, surgiu também uma nova abordagem em relações internacionais, que reconhecia que, ao validar países totalitários, o país contribui para o fortalecimento de ameaças ao seu próprio modo de vida democrático. 

Araújo disse: “É uma democracia, uma forma diferente de ser um país, de ser uma nação. É uma forma baseada na liberdade. Ou seja: o princípio é a liberdade. Liberdade de cada um, de cada indivíduo, de exercer a sua a sua vida e buscar a felicidade na sua vida. E o Estado está aí para facilitar, quando possível, essa busca da liberdade, sobretudo para não atrapalhar essa busca da felicidade. É uma ideia completamente nova e que levou os Estados Unidos, nesse momento, a passarem a ver o mundo, depois que eles se tornam país e se afirma como um país independente, a ver o mundo de uma maneira um pouco diferente”. 

O diplomata explicou que, nesse momento de fundação, os Estados Unidos eram uma nação singular e reconheceram que essa singularidade precisava ser protegida. Ele disse: “Todos os outros têm regimes que são construídos de cima para baixo de um poder estatal que manda e que praticamente é dono da sua população”. Araújo expôs que, em um primeiro momento, a atitude adotada foi a de não interferir em qualquer outro país, mas que essa atitude carregava algumas ameaças. 

Araújo explicou que começou a haver uma percepção de que é necessário se importar com a organização interna dos países, reconhecendo se são totalitários ou autocráticos, porque esses “tendem a representar um problema para os países democráticos”. Ele disse: “Isso começa a ficar presente no imaginário americano e isso se consolida sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial, com a famosa frase do Woodrow Wilson (...) é onde ele diz que o presidente americano, na época da Primeira Guerra, que era preciso construir um mundo seguro para as democracias”. O diplomata explicou: “Precisamos de um mundo que seja seguro para uma ideia, para um tipo de país, para um tipo de instrumento, de exercício da liberdade, que é a democracia”.

Ernesto Araújo prosseguiu: “o fundamental é saber se um país é democrático e está trabalhando a favor de um mundo seguro para as democracias, ou um país totalitário que está trabalhando contra esse mundo, que está trabalhando por um mundo de agressão, de violência, de repressão, um mundo seguro para o totalitarismo. Isso depois se afirma na Segunda Guerra Mundial, mas de uma maneira muito mais explícita, muito mais dramática até do que na Primeira Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial é uma batalha de ideias, muito mais do que uma batalha de forças puramente geopolíticas. É uma batalha entre mundo livre e mundo totalitário”. 

O diplomata expôs que, na Segunda Guerra, os EUA participaram de alianças com o intuito de preservar a democracia no mundo, e que esse combate continuou após o fim da guerra, com a Terceira Guerra, ou guerra fria. Araújo disse: “uma guerra fria, dessa vez novamente em defesa da liberdade, novamente em defesa de preservar um espaço no mundo para a liberdade e tentar diminuir o espaço do totalitarismo, percebido como uma permanente ameaça”.

Ernesto Araújo explicou que essa defesa da democracia no Brasil, observada na realização de uma audiência pública para expor as violações de direitos perpetradas por Moraes, é o resultado dessa longa história de defesa da ideia democrática em todo o mundo. Ele apontou que, mesmo nos EUA, há forças defendendo o contrário e ameaçando a democracia. Araújo disse: “Então essa componente, você pode chamar de ideológica, ela perpassa toda a história americana até pelo menos o final da Guerra Fria, depois do governo Reagan, onde os Estados Unidos resolvem aparentemente se esquecer disso e acham: está todo mundo igual, todos os países se movem da mesma maneira”.

O diplomata explicou que, ao abraçar a narrativa de que não é necessário se importar com a democracia em outros países, o Ocidente abriu um espaço para o crescimento de vários totalitarismos. Ele disse: “deixam surgir vários mecanismos de opressão, entre os anos 90 e hoje, vários países totalitários que não eram para ter poder nenhum nesse mundo, e estão no poder aí, em grande parte porque os Estados Unidos deixaram de pensar o mundo sob a ótica da liberdade e da democracia”.

O embaixador apontou: “Então, isso é um pouco o pano de fundo por que os Estados Unidos estão interessados [no Brasil] (...) o Partido Republicano está se interessando por esse tema verdadeiramente da democracia. Está vendo que os totalitarismos estão avançando no mundo e o mundo está se tornando menos seguro para a democracia”. Araújo expôs: “é preciso fazer alguma coisa porque o modelo deles, o experimento deles, está em perigo, está em perigo a partir de vários tipos de ameaça. Está em perigo, inclusive internamente, com a erosão das liberdades básicas dentro dos Estados Unidos, com a opção de pessoas ou grupos dentro dos Estados Unidos por outros modelos de sociedade. (...) Então, o avanço de um projeto totalitário e pró totalitário num país como o Brasil aparece numa luz diferente para eles. Não é algo imediato, é algo que vem de toda uma vida, de uma experiência histórica americana. Toda uma experiência histórica de um país que resolveu ser algo diferente, ser uma democracia quando ninguém era, e sempre, ou quase sempre, se sentiu na necessidade de preservar isso, que não é óbvio. Essa preservação não é óbvia, nada está garantido. Acho que eles voltaram a ter esse sentimento. Então, por isso é que o Brasil está “on” nos Estados Unidos”.

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