Durante transmissão do programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, explicou o processo de implantação de um sistema que ele chamou de “criminal-socialismo”, não apenas no Brasil mas em outros países da América Latina. O diplomata analisava o retrocesso da democracia no México e comparou com o caso brasileiro.
Araújo apontou que, no México, “o López Obrador tem um projeto socialista. Chega ao poder, pega leve com os cartéis, consegue fazer um governo que os cartéis deixam ele fazer. Há denúncias mil de impropriedades eleitorais e de violência durante as eleições”. Ele explicou: “um governo eleito está mudando a estrutura de poder do seu país, em associação com o crime organizado sob a cobertura de um véu democrático”.
O diplomata comparou: “no Brasil é basicamente a mesma coisa. Está mudando a estrutura de poder no Brasil, a estrutura na relação entre sociedade e Estado, o poder indo totalmente no sentido do Estado. Mas que Estado? É o Estado que tem poder para reprimir as pessoas e para roubar. Que não tem poder e não quer exercer esse poder para combater, realmente, o crime organizado”.
Ernesto Araújo relatou que as associações do crime organizado com o poder no México são mais estudadas do que no Brasil, tendo em vista o interesse específico dos Estados Unidos naquele caso, e os riscos específicos dos estudos no Brasil. Ele ponderou que, embora não haja estudos acadêmicos, “o certo é que a gente tem a sensação óbvia, a gente vive com essa sensação de um domínio crescente do crime organizado. Talvez não tão territorializado quanto no México, mas, no campo conceitual e no campo da política, provavelmente sim. Então, o que interessaria sobretudo saber no Brasil é o quanto do fluxo econômico e político do Brasil, ou seja, do dinheiro que é oriundo do país, mas distribuído e trabalhado pela classe política, o quanto desse dinheiro tramita, desde o imposto até o uso final, como dinheiro limpo, e o quanto dele é contaminado pelo crime organizado”.
O embaixador explicou: “A classe política brasileira domina praticamente toda a economia brasileira, não só aquilo que vem como imposto e que ela redistribui, mas todo o restante da atividade acaba sendo, de alguma maneira, açambarcado pela classe política, porque o modelo de negócios de cada empresa, mesmo que ela seja privada, depende das amizades com os políticos. É o capitalismo de laços que predomina no Brasil. Então, se você tem uma classe política associada ao crime organizado, associada à corrupção, associada a tráfico, etc, você tem necessariamente a sua economia associada a tudo isso, desviada de tudo isso”.
Ernesto Araújo questionou: “Seria interessante saber, tentar estudar a economia do crime e os impactos do crime na economia brasileira. Será que a estagnação econômica do Brasil tem a ver com a presença crescente do crime organizado e o controle crescente da economia pelo crime organizado através da classe política no Brasil? Será que tem? Acho que tem, porque, no Brasil, o que a gente tem não é simplesmente uma estatização da economia, seja de fato ou de direito. O que a gente tem é uma criminalização da economia através da criminalização da classe política. Então, isso nos aponta para um criminal-socialismo”. O diplomata destacou o caráter profundamente totalitarista da associação entre política e crime organizado, e expôs: “tanto no Brasil quanto no México, nos dois casos, a gente pode falar de um criminal-socialismo”.
O diplomata explicou que, em vários países da América Latina, esse modelo está se expandindo, dizendo: “sobretudo pela socialização da economia em associação com o crime organizado. Isso vem acontecendo em outros países da América Latina: Venezuela, obviamente. Nicarágua. Tentou se implantar esse modelo no Peru. Está se tentando implantar esse modelo na Colômbia. Sempre governos de esquerda que chegam e tentam trazer o crime organizado junto para se consolidarem no poder”.
Ernesto Araújo comparou as tentativas em diferentes países, exemplificando com a diferença entre, por um lado, México e Brasil, e, por outro lado, Peru e Colômbia. Ele apontou que, no Peru e na Colômbia, há ainda uma resistência vinda de instituições e da população contra a implementação do sistema criminal-socialista.
O embaixador comparou: “O que a gente vê no México e no Brasil, justamente os dois maiores países da região, é a falta de anticorpos contra isso”. Araújo lembrou que a sociedade brasileira tentou reagir, desde 2013. Ele lembrou as manifestações desde 2013 e o impeachment de Dilma em 2016, e disse: “parecia que os anticorpos contra o sistema socialista corrupto criminoso estavam dominando e iriam expulsar esse sistema socialista corrupto criminoso do Brasil”.
Ernesto Araújo disse: “Mas o sistema soube se defender, se defendeu de várias maneiras, sobretudo a partir de 2020. Usou a pandemia para isso. E já começou a se recompor em 2020, 2021 e até aqui, em 2023, praticamente se tornou inexpugnável, com domínio agora de todas as instituições principais do país”.
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