Embaixador Ernesto Araújo retruca declaração de Michel Temer em entrevista e refuta narrativas e tentativa de ‘esterilizar’ a revolta popular
Durante seu programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, explicou o que está por trás da expressão “polarização” para se referir ao estado de coisas no Brasil. Araújo exemplificou com uma entrevista do ex-presidente Michel Temer, que afirmou que seria necessário “acabar com a polarização”.
Ernesto Araújo disse: “vi uma entrevista do ex-presidente Temer dizendo ‘o Brasil está muito polarizado, temos que acabar com isso. Precisamos de união’”. O diplomata apontou: “o que eles querem dizer com ‘tem que acabar a polarização’? É: ‘você tem que voltar a abafar essa energia de revolta da população contra um estado repressor’”. Araújo prosseguiu explicando que há um discurso de “acabar com a polarização entre esquerda e direita”, que mascara a verdadeira questão.
Araújo disse: “na prática, o que eles querem? Acabar com a energia da população. A população revoltada tende a se identificar hoje, no Brasil, com a direita. Por quê? Porque a esquerda está totalmente identificada com o sistema de poder atualmente existente. Mas a questão não é esquerda ou direita. A questão é o povo confiando um no outro, as pessoas umas nas outras, versus o Estado querendo que cada indivíduo esteja diretamente ligado ao Estado e completamente desligado dos seus semelhantes. Essa é a verdadeira polarização: entre a sociedade de controle e a sociedade de confiança”.
O diplomata explicou que a tentativa de descrever essa polarização como um conflito entre direita e esquerda visa propor uma “união” contra o conflito para acabar com o sentimento de revolta da população. Ele disse: “eles querem transformar isso numa disputa política. Não pode ter polarização, é o que eles querem. Eles querem que toda a indignação e revolta popular convirja para aquilo que é chamado de direita no Brasil, na política e, em seguida, montar um acordo (...) para esterilizar o impulso de revolta, de transformação que parte da população”.
Ernesto Araújo comparou com a proposta do presidente da Argentina, Javier Milei, apontando que ele se coloca como uma referência de país em que a população é ouvida e considerada e em que o governo não se submete às pautas globalistas. Ele disse que o mundo está notando que Milei está se afastando do eixo formado pela Rússia e pela China, e se aproximando do Ocidente. O diplomata enfatizou que essa dinâmica não inclui apenas a economia, mas também a cultura. Ele disse: “Milei está atuando em todas essas frentes. Elas são mutuamente ligadas. Não basta você criar leis, tentar criar uma economia de mercado, liberalizar economia dentro, se você continuar deixando a agenda globalista penetrar no seu país, porque essa agenda está contra a liberdade, para fazer as pessoas dependentes do Estado, para controlar a produção, para controlar a agricultura, para controlar energia, para dar poder ao Estado, de regular, regular sua vida, sua vida em família, sua vida, enfim, a economia, tudo isso. Então, você precisa resistir a essa agenda. E você tem que também se distanciar dos países totalitários e se aproximar dos países democráticos”.
Na conjuntura jurídica atual do Brasil, muitas pessoas estão sendo tratadas como sub-cidadãos e sub-humanos, sendo perseguidas implacavelmente por medidas judiciais invasivas e arbitrárias, sem direito razoável ao contraditório e à ampla defesa, pelo simples motivo de terem manifestado apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Por expressarem suas opiniões, são alvo de CPIs, de inquéritos secretos conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal, ou são vítimas de medidas arbitrárias como prisões políticas, apreensão de bens, exposição indevida de dados, entre outras.
O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a advertir, em um pronunciamento, para uma manifestação da subprocuradora Lindôra Araújo, da PGR - Procuradoria-Geral da República - que denunciou o uso da técnica da “fishing expedition” por parte do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A técnica é comum nos inquéritos conduzidos por Moraes contra adversários políticos, jornais independentes e cidadãos que se expressam de maneira crítica contra a conduta de ministros da Suprema Corte. Neste modus operandi, o investigador promove uma devassa em pessoas escolhidas por ele para procurar algum indício ou algum motivo para acusação, em contrariedade ao preconizado pelo Direito, que deveria investigar fatos.
Em inquéritos conduzidos em cortes superiores, observa-se um procedimento característico: matérias da velha imprensa atribuem um “rótulo” ou “marca” a um grupo de pessoas, e isso é tido como suficiente para quebras de sigilos, interrogatórios, buscas e apreensões, prisões e confiscos. As “matérias” e depoimentos de pessoas suspeitas são aceitas sem questionamento e servem de base para medidas cautelares contra as pessoas “marcadas”. Após promover uma devassa nas pessoas e empresas, no que é conhecido como “fishing expedition”, os dados são vazados para a velha imprensa, que então promove um assassi* de reputações que dá causa a novas medidas abusivas. Conforme vários senadores já notaram, os procedimentos são, comumente, dirigidos aos veículos de imprensa independentes, em evidente tentativa de eliminar a concorrência, controlar a informação e manipular a população brasileira. Os inquéritos são mantidos abertos por tempo indeterminado para continuarem a produzir seus efeitos devastadores sobre as vidas dos investigados, que não têm meios para questionar as decisões.
Em um inquérito administrativo no Tribunal Superior Eleitoral, seguindo esse tipo de procedimento, o ministro Luís Felipe Salomão ordenou o confisco da renda de diversas pessoas, sites e canais conservadores, inclusive a Folha Política. A decisão recebeu elogios dos ministros Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Edson Fachin, e o inquérito passa de corregedor em corregedor, enquanto a renda do trabalho de famílias e empresas permanece confiscada sem base legal. Após o ministro Luís Felipe Salomão, já foram relatores do inquérito os ministros Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves, e o atual relator é o ministro Raul Araújo.
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