sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Embaixador Ernesto Araújo aponta imprescindíveis lições do filósofo Sócrates para enfrentar a tirania no Brasil: ‘justiça é uma coisa, poder é outra’


Durante transmissão do programa Código-Fonte, o embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, expôs como o julgamento do filósofo Sócrates traz lições sobre o enfrentamento à tirania. Araújo explicou como Sócrates buscava extrair das pessoas a sabedoria natural, e ponderou: “Sócrates parte do princípio de que nenhuma autoridade vai nos dizer o que é justo ou injusto. Mesmo que a autoridade nos diga que isso é justo ou injusto, se isso contraria o nosso sentimento, as nossas luzes naturais, essa pessoa, essa autoridade, esse poder, esse governo, pode ter o poder até de nos matar, mas não vai mudar a realidade daquilo que é bom ou mau, daquilo que é justo ou injusto”.

O diplomata comparou: “não é a base, por exemplo, do pensamento chinês, que até hoje eles dizem: ‘o que é a verdade? A verdade é a história’. Quem determina o que é verdadeiro ou falso é quem tem o poder, atingido através de uma vitória militar ou política, o que quer que seja. Não existe verdade, existe o poder. E são dois caminhos completamente diferentes e que começam a divergir a partir de Sócrates. Antes disso, não existia em nenhum lugar do Ocidente ou do Oriente esse tipo de pensamento de uma verdade superior. A verdade era dada pelas autoridades, pelos sacerdotes, pelos reis, pelos imperadores. Agora, com Sócrates, a verdade é dada pela luz que vem de algum lugar e que nos mostra o caminho da verdade”.

Ernesto Araújo explicou: “Sócrates não é julgado por uma banalidade. Ele é julgado porque ele afetava essa base da estrutura de poder de Atenas, que é a base da estrutura de poder de todas as sociedades antigas. E Sócrates racha essa estrutura de poder. E por essa brecha vai passar então toda a sociedade ocidental, todo o pensamento ocidental, formando toda a nossa noção de democracia, toda a nossa noção de liberdades básicas, liberdades individuais, de uma verdade que está além da posse do poder”.

O diplomata expôs: “as autoridades atenienses viram o perigo daquilo e, até hoje, qualquer autoridade vê o perigo do pensamento individual, desse pensamento que especula e que procura sozinho, com as suas próprias luzes, independentemente do mandato do soberano ou do juiz, chegar à verdade.  Então, Sócrates é levado ao tribunal e acham que os crimes dele são tão graves que ele merece a morte e ele é condenado à morte”.

Ernesto Araújo descreveu como Sócrates encarou a condenação injusta, citando: “Se eu passar desse mundo aqui, onde pessoas como vocês, mentirosos e injustos, se consideram juízes, e eu passar para um mundo onde eu vou encontrar pessoas verdadeiramente justas, eu vou estar no lucro”. 

O embaixador explicou: “Por que nós estamos definhando? Porque estamos perdendo essa noção básica que está lá em Sócrates, de que justiça é uma coisa, poder é outra. Que o poder pode ser injusto. Estão todos os dias querendo nos impor - e o fechamento do X no Brasil é  isso - estão querendo nos impor que o poder é a justiça, e você tem que calar a boca se você achar o contrário”. 

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