quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Sérgio Moro explica a Pacheco que Moraes censurou até o Papa e questiona narrativa de ‘conciliação’: ‘cadê a pacificação?’


O senador Sérgio Moro, durante sessão do plenário do Senado, aconselhou o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, mostrando que não é mais possível fingir que não está vendo as violações de direitos perpetradas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Moro fez um longo preâmbulo louvando o senador Pacheco pela aprovação de leis - que, a priori, são o resultado do trabalho do colegiado. 

Moro ponderou: “Existe aqui, porém, o que foi colocado por alguns colegas, que é uma preocupação profunda com o que algumas decisões têm trazido ao país e, em especial, essas últimas, porque nós respeitamos o Supremo Tribunal Federal, as instituições, mas essa suspensão da rede social e especialmente a imposição de uma multa ao brasileiro que acessar a rede, que não tem uma previsão legal, tem causado espécie, tem causado preocupação”.

O senador, que foi o juiz da Lava Jato, explicou: “é uma decisão judicial que comporta, sim, questionamentos. Não vou entrar aqui numa disputa entre fulano X e fulano Y, o fato é que os prejudicados são 22 milhões de brasileiros usuários da rede, que conduzem negócios, que interagem socialmente e que fazem comunicação com o mundo exterior”.

Moro mostrou que a decisão de Moraes chega a censurar o próprio Papa. Ele disse: “Eu mencionava que, semana passada, o Papa Francisco postou uma mensagem se solidarizando a um evento trágico que houve em Recife, postou em português, mas nós não pudemos reverberar essa postagem por conta da decisão judicial”.

O senador disse: “o único posicionamento que aqui destaco como necessário é que essas situações têm que ser normalizadas, têm que ser revistas”. Moro respondeu à narrativa de que teria havido uma situação de “emergência” que justificaria, na mente de alguns, ações inconstitucionais e arbitrárias, e disse: “talvez, como a V. Exa. colocou, havia uma situação de emergência que demandava algumas ações mais enérgicas, mas já se passaram dois anos. Nós tentamos - V. Exa. é um exemplo disso -, buscando trabalhar pela pacificação”. Ele questionou: “Mas cadê a pacificação?” 

Apesar de alguns senadores agirem no limite de seus poderes para frear os atos autoritários de ministros das cortes superiores, a Casa legislativa, como um todo, permanece cega, surda e muda, indiferente aos ataques à democracia, graças ao seu presidente, Rodrigo Pacheco, que engaveta todos os pedidos de impeachment de ministros de cortes superiores que chegam às suas mãos. 

Os senadores há muito tempo têm conhecimento dos inquéritos secretos conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, utilizando delegados da polícia federal escolhidos a dedo para promover uma imensa operação de “fishing expedition” contra seus adversários políticos. O desrespeito ao devido processo legal e a violação ao sistema acusatório são marcas dos inquéritos políticos conduzidos pelo ministro e já foram denunciados pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge, que promoveu o arquivamento do inquérito das Fake News, também conhecido como “Inquérito do Fim do Mundo”, e também por inúmeros juristas, inclusive em livros como “Inquérito do fim do Mundo”, “Sereis como Deuses”, e no mais recente “Suprema desordem: Juristocracia e Estado de Exceção no Brasil”. O ministro Alexandre de Moraes também já foi chamado de “xerife” pelo então colega Marco Aurélio Mello pelos excessos cometidos em seus inquéritos. Na imprensa internacional, as denúncias vêm se avolumando. O ministro Kássio Nunes Marques consignou, em voto, as violações de direitos humanos nas prisões em massa ordenadas por Moraes. Apesar das constantes denúncias, o Senado brasileiro segue inerte. 

Os senadores sabem sobre os jornais que foram “estourados” e tiveram todos os seus equipamentos apreendidos, e sabem sobre os jornalistas perseguidos, presos e exilados. Os senadores não apenas foram informados sobre a invasão de residências de cidadãos e apreensão de bens, mas também viram, sem qualquer reação, operações contra seus próprios membros, o senador Arolde de Oliveira e o senador Marcos do Val. Os senadores sabem que muitos meios de comunicação vêm sendo censurados há muito tempo. Os senadores souberam sobre a prisão do deputado Daniel Silveira, em pleno exercício do mandato, por palavras em um vídeo. Os senadores sabem que o ex-deputado voltou a ser preso, por supostas violações a medidas cautelares que foram impostas em um processo que tinha sido extinto pela graça presidencial. Os senadores sabem que a graça presidencial, constitucional, foi cancelada. Os senadores foram informados sobre a perseguição a jornalistas, que são censurados, impedidos de exercerem sua profissão, e têm bens e redes sociais bloqueados. Os senadores sabem que ativistas passaram um ano em prisão domiciliar, sem sequer denúncia, obrigados a permanecer em Brasília, mesmo morando em outros estados. Os senadores sabem das violações a prerrogativas de advogados. Os senadores sabem sobre a prisão de Roberto Jefferson,  presidente de um partido, e sua destituição do cargo a mando de Moraes. Os senadores sabem da censura a parlamentares. Os senadores sabem que jornais, sites e canais conservadores têm sua renda confiscada há dois anos. Os senadores sabem sobre as prisões em massa sem individualização de condutas, sob acusações descabidas. Os senadores sabem sobre as multas estratosféricas e confiscos de propriedade. Os senadores sabem que crianças ficam presas com seus pais, sem meios de sustento, em “cautelares” sem prazo para acabar. Os senadores sabem que Clériston Pereira da Cunha morreu no cárcere, com um pedido de soltura aguardando que o ministro se dignasse a apreciar. Os senadores sabem que outras pessoas presas injustamente só foram soltas após a morte do preso político no cárcere. Os senadores conhecem muitos outros fatos.  Mesmo assim, todos os pedidos de impeachment, projetos de lei, e requerimentos de CPI seguem enchendo as gavetas do sr. Rodrigo Pacheco. 

Há mais de cinco anos, o ministro Alexandre de Moraes conduz, em segredo de justiça, inquéritos políticos direcionados a seus adversários políticos. Em uma espécie de “parceria” com a velha imprensa, “matérias”, “reportagens” e “relatórios” são admitidos como provas, sem questionamento, substituindo a ação do Ministério Público e substituindo os próprios fatos, e servem como base para medidas abusivas, que incluem prisões políticas, buscas e apreensões, bloqueio de contas, censura de veículos de imprensa, censura de cidadãos e parlamentares, bloqueio de redes sociais, entre muitas outras medidas cautelares inventadas pelo ministro, sem qualquer chance de defesa ou acesso ao devido processo legal. 

O mesmo procedimento de aceitar depoimentos de testemunhas suspeitas e interessadas, e tomar suas palavras como verdadeiras, se repete em diversos inquéritos nas Cortes superiores. A Folha Política já teve sua sede invadida e todos os seus equipamentos apreendidos a mando do ministro Alexandre de Moraes. A renda do jornal está sendo confiscada a mando do ministro Luís Felipe Salomão, ex-corregedor do Tribunal Superior Eleitoral, com o aplauso dos ministros Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Edson Fachin. Todos os rendimentos de mais de 20 meses de trabalho de jornais, sites e canais conservadores são retidos sem qualquer base legal.  

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