Da tribuna, o senador Sérgio Moro, que foi o juiz da operação Lava Jato na primeira instância, expôs aos colegas que houve uma condenação, nos Estados Unidos, de um indivíduo que pagou subornos a funcionários da Petrobras. O senador afirmou: “É vergonhoso que nós estejamos vendo a Justiça estrangeira se encarregar de corrupção ocorrida no Brasil (...) pela ausência de justiça, de aplicação de justiça, para crimes de corrupção aqui no Brasil”.
O senador apontou que pessoas que chegaram a confessar seus crimes e devolver dinheiro agora estão pedindo a anulação de seus processos e, pior, estão sendo atendidos. Ele disse: “Foram coagidos os pobres coitados funcionários públicos, enriquecidos com dinheiro sujo, acompanhados dos melhores advogados do país. E têm a coragem de afirmar perante o Supremo Tribunal Federal que teriam sido coagidos. E mais estranho ainda é alguém acolher uma tese, um álibi dessa espécie. Enfim, o que nós vemos hoje é um quadro de absoluto deserto de prevenção e combate à corrupção no Brasil do Governo Lula”.
O senador denunciou as manobras utilizadas para decidir no Supremo processos e acordos que já estavam encerrados, e alertou sobre o vexame do país e a mensagem de impunidade que é enviada ao povo e aos membros do Judiciário: “aí somos submetidos a esse vexame de ver a corrupção praticada no Brasil, sendo julgada e combatida não pelas cortes de justiça brasileiras, mas pela Justiça norte-americana, porque lá, pelo menos, a lei se aplica, o rule of law, o império da lei, enquanto aqui o cenário é completamente de terra arrasada. Não só na instância máxima, mas o recado que se manda para as instâncias ordinárias é esse: não vale a pena você investigar, não vale a pena você combater a corrupção porque não tem segurança jurídica e porque, de um jeito ou de outro, agora ou mais adiante, vão dar um jeito para anular esses processos”.
Moro ponderou: “esse quadro desalentador nos leva ao abismo. (...) Temo pelo que pode acontecer no Brasil daqui para frente. (...) As pessoas vão vendo e vão ficando com a sensação de que não vale a pena cumprir a lei, não vale a pena ser honesto. O pai de família não tem condições de chegar na casa dele e dizer para o filho dele que roubar é errado. E aonde nós vamos chegar com isso?”.
Após um aparte do senador Esperidião Amin, que sugeriu que os senadores reflitam sobre suas responsabilidades e omissões, o senador Sérgio Moro prosseguiu, exemplificando: “Um criminoso confessou pagamento de suborno; pediu o dinheiro de volta, R$25 milhões. E o juiz deferiu. Surreal, é uma decisão surreal, porque alguém confessa um crime; indeniza, paga uma multa e, de repente, a voluntariedade não vale mais nada. O contexto não vale mais nada. Eu não sei onde nós vamos chegar, sinceramente”.
Após uma observação do senador Plínio Valério, que presidia a sessão, Moro acrescentou: “É com muita satisfação que eu tenho esse mandato, até para poder fazer esse tipo de fala aqui, mas, de fato, é uma preocupação muito grande. A gente tem um foco, muitas vezes, no embate com este Governo em termos de economia, que é natural, que afeta diariamente a vida das pessoas, mas tem algo que já é objeto de estudos internacionais os mais variados - que é o império da lei, a segurança jurídica, a previsibilidade são elementos essenciais para o crescimento econômico. E num país que virou um vale tudo moral, qual é a segurança jurídica que nós temos?”.
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