O embaixador Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, ao analisar as propostas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para seu segundo governo, expôs os indícios de como será a atuação de Trump no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ernesto Araújo apontou que, diferentemente de outros temas, Trump não divulgou declarações explícitas sobre seus planos para a Ucrânia, mas há fontes que indicam possíveis condutas do presidente eleito.
Segundo Ernesto Araújo, há especulações de que Trump “vai propor uma demarcação de uma nova fronteira, colocando a parte já invadida da Ucrânia no lado russo - isso é uma especulação - criando uma zona tampão, uma faixa tampão a ser administrada por forças militares europeias, e a Ucrânia do outro lado”.
O embaixador apontou que uma solução dessa natureza seria injusta com a Ucrânia, que foi invadida e vem se defendendo contra uma força militar superior, e ponderou: “se o Trump realmente fizer isso - aí, é uma análise que eu vou fazer de maneira fria, sem concordar com isso - se ele fizer isso, eu acho que ele fará isso em troca de alguma coisa (...) por parte da Rússia”. Ele questionou: “Será que alguma coisa que a Rússia entregue pode parcialmente justificar isso?”
Araújo disse: “eu acho que o Trump tem uma agenda e uma estratégia global, não uma estratégia individual. E a Ucrânia x Rússia será tratada dentro de uma estratégia global”. Ele lembrou: “a Rússia não é um sistema de poder estável, a Rússia é o Putin. O poder russo é organizado em volta dessa figura”. O diplomata questionou: “o que será a Rússia daqui a 10, 15, 20 anos? E 30 anos?”. Ele ponderou: “pode ser que a estratégia de Trump “seja para trabalhar com o tempo, e para trabalhar com a presença global da Rússia. A Rússia tem uma presença global nociva em todos os continentes. Será que, com uma solução de paz que seja, de alguma maneira, favorável à Rússia na Ucrânia, a Rússia pode ser forçada a abandonar sua presença em todos os outros continentes? Pode ser. De novo, acho que não justificaria. Mas eu acho que tem elementos que podem estar numa eventual negociação”.
Ernesto Araújo explicou que, para implementar suas políticas, Trump precisará viabilizar os meios de atuação. O diplomata disse: “Ele viu que os meios faltaram, em grande parte, no primeiro governo Trump. As ideias basicamente eram as mesmas, mas internamente foi muito sabotado pelo funcionalismo. Em parte foi sabotado por parte da cúpula militar americana. Isso não se fala muito, mas eu acho que tem generais aí, americanos, que vão ser afastados. E houve muita sabotagem da mídia também, sabotagem dentro e sabotagem na mídia”.
O embaixador explicou que Trump pretende enfrentar a sabotagem do funcionalismo público e colocar a grande mídia na defensiva, garantindo seus meios de atuação. Ele explicou: “com a colocação da grande mídia na defensiva, ele já ganha muito espaço em termos de meios de atuação. Ele vai conseguir implementar suas políticas de uma maneira que não sejam destruídas internamente pelo funcionalismo e por uma mídia mentirosa, manipuladora. Como é que ele vai fazer com a mídia? Bom, pela concorrência das redes. As pessoas estão vendo que a mídia mente, e que nas redes são as pessoas que estão falando. Então acaba emergindo uma verdade construída na sociedade”.
Araújo expôs: “A grande mídia tem muito a ver com poder estatal, centralização. Você tem poucas unidades de produção de informação que centralizam tudo. (...) Redes sociais são o oposto. As redes sociais são os campos onde se permite que cada indivíduo produza informação e consuma a informação de cada outro indivíduo. Então é o mundo da informação de baixo para cima, feito a partir da sociedade em direção ao Estado. E, como diz o Trump, se isso for implementado, o Estado estará ali para garantir a liberdade das redes e não para minorar a liberdade das redes. O enfoque da mídia é o enfoque pirâmide, ou seja, uma liderança, digamos, de poder, que, através da mídia, diz para as pessoas o que elas podem fazer, o que elas podem pensar. No outro caso, você tem uma pirâmide invertida, ou seja, o poder está na sociedade. Totalmente disseminado, totalmente inadministrado, não gerido pelo Estado. E é dessa interação de milhões e bilhões de pessoas que vão surgindo as ideias em choque e em cooperação umas com as outras. E isso vai produzindo o desenvolvimento daquela sociedade. E o Estado está ali apenas para garantir a liberdade dessa circulação”.
O diplomata afirmou: “É outro paradigma. E com essa inversão de paradigma, o sistema perde um dos seus principais instrumentos, que é esse controle de cima para baixo. (...) Quando ele fala do Digital Bill of Rights - a carta de Direitos Digitais -, é isso: que os Estados Unidos são construídos como uma sociedade, desde o começo, que se constrói a si mesma. E o Estado está ali apenas para proteger a liberdade dessa sociedade. Com defeitos, sim, mas esse é o ideal a ser perseguido. E bem ou mal, ele tem funcionado, e é o ideal, que melhor funciona, para a democracia”.
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