O desembargador aposentado Sebastião Coelho, que atua na defesa dos presos e perseguidos políticos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, participou da live realizada pela Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (ASFAV) na data em que se completam dois anos do evento que levou a prisões em massa e perseguição política de pessoas inocentes.
O desembargador respondeu a uma pergunta sobre a prática de tortura pelo ministro Alexandre de Moraes, confirmando que é possível classificar a atuação do ministro dessa forma. Ele lembrou que o próprio julgamento em instância única, em um verdadeiro tribunal de exceção, já é um elemento, mas há ainda o cerceamento da defesa, o tratamento desumano, e o próprio sentimento do ministro Alexandre de Moraes. Sebastião Coelho disse: “ele age de forma vingativa contra essas pessoas”. O desembargador mencionou: “Hoje mesmo ele estava lá no Palácio do Planalto, sendo chamado pelo presidente de ‘Xandão’. Como se isso fosse uma brincadeira. E esse é um ministro da Suprema Corte que não se dá ao respeito. É um perseguidor dessas pessoas do 8 de janeiro”.
Questionado sobre as perspectivas para o futuro dos presos políticos, o desembargador ponderou que a lei da anistia já deveria ter sido aprovada, mas isso não ocorre devido às relações entre certos parlamentares e o governo e o Supremo Tribunal Federal. Ele mencionou a participação de ministros do Supremo na celebração de Lula e disse: “Eles são parceiros, eles são cúmplices. Essa é a palavra de tudo o que está acontecendo”.
Sebastião Coelho lamentou: “mas nós não temos alternativa, porque os nossos deputados já receberam a nossa procuração para agir em nosso nome, e eles não agem”. O desembargador afirmou: “a solução para a pacificação do nosso país é a anistia. Para isso, nós temos que fazer manifestações, manifestações. Não sei se a população está assim disposta a ir pra rua, mas fazer a paralisação nacional”.
O desembargador alertou: “Não tem mais o que esperar. Se for para esperar… ‘ah vamos esperar, 2026 tem eleição pro Senado, e em 2027…” Ele questionou: “Chegaremos a 2026? Em quais condições?”. Coelho questionou ainda: “em quais condições essas eleições vão ser colocadas para os participantes? As pessoas que querem disputar um cargo?”.
Sebastião Coelho disse: “toda a revolta que me acompanhou no ano de 2024 continua comigo aqui em 2025. E eu não vou arredar pé para esses abusadores do Direito. Eles podem estar usando temporariamente essa capa de magistrado, mas eles não são juízes. Juiz cumpre a Constituição, cumpre a lei. E, quando a pessoa avoca para si uma competência que não tem, eu não vejo como respeitar a pessoa”.
O desembargador lembrou que Alexandre de Moraes não age sozinho e disse: “a solução é denunciarmos todos os dias, ter pessoas que estão aí na luta, mostrando, expondo todos os dias as arbitrariedades, porque senão fica somente na narrativa oficial pelas TVs que são muito bem remuneradas, por todos nós, com o nosso dinheiro que é canalizado para essas televisões”.
Ao falar sobre a situação dos presos políticos, Sebastião Coelho disse: “quando tudo isso passar, vai ser contado como história… e aí alguns estudantes ou estudiosos não vão entender como isso pode ter acontecido. Mas as pessoas sofreram. As pessoas pagaram um preço e continuarão a pagar”. Ele apontou: “nós vemos hoje mais uma vez, infelizmente, o Lula dizer que as penas serão aplicadas, traduzindo já o sentimento do que vai acontecer no futuro, no Supremo Tribunal Federal, porque evidentemente ele tem informação privilegiada”. O desembargador afirmou: “o sofrimento dessas pessoas, dessas famílias, ninguém vai apagar, ninguém vai retirar”.
Coelho lembrou ainda o caso de Daniel Silveira e disse: “tudo isso são violações que o Supremo Tribunal Federal tem feito desde março, abril de 2019. E as pessoas caladas assistindo”. Ele disse: “em um movimento como esse de hoje, nós estamos fazendo uma resistência, mas as lideranças políticas tinham que tomar a frente disso. Mas como que as lideranças políticas vão tomar a frente se estão muito satisfeitas com as suas emendas parlamentares? Então, o povo está só. O Parlamento não reage. O poder Executivo está entrelaçado com o poder Judiciário e o Supremo Tribunal Federal vai continuar a praticar abuso”.
O desembargador lembrou uma frase dita pelo próprio presidente do Supremo Tribunal Federal: “disse que quem adquire poder não abre mão do poder e que o Supremo Tribunal Federal tinha adquirido o poder político. Então, alguma coisa está muito errada nessa relação dos poderes constitucionais, que foi estabelecida com regras claras lá na construção. Quando nós vemos parlamentares sendo processados, retirando a imunidade material do artigo 53 da Constituição, isso é para acuar os parlamentares, dizer: ‘não defenda o povo que vocês mesmos poderão ser processados’. Então, o momento é de muita desesperança. Mas eu sempre animo às pessoas. Eu quero animar as pessoas aqui. Coloque a revolta para que isso tenha um resultado concreto. Não podemos ficar esperando de braços cruzados”.
Em suas considerações finais, o desembargador lembrou absurdos como a utilização da teoria do ‘crime multitudinário’ e disse: “quero dizer para a população que a Justiça do meu país não é o Supremo Federal”. Ele relembrou sua carreira e disse: “posso afirmar com tranquilidade: 80% dos juízes do Brasil não concordam com o que o Supremo Tribunal Federal está fazendo”.
O desembargador admitiu que Alexandre de Moraes já forma seguidores. Ele disse: “Vai ter um ou outro deslumbrado ou outro puxa-saco que vai seguir? Vai ter, como teve agora aí uma juíza que mandou investigar um soldado israelense, jogando o país numa crise nacional. Tudo isso aí são os filhotes, aqueles discípulos que já são feitos pelo ministro Alexandre de Moraes, que não é um juiz; está ocupando um cargo de ministro, mas está longe de ser juiz”.
O desembargador disse: “nós temos um Deus que não perdeu o controle da nossa vida e não perdeu o controle da nossa nação. Agora, nós temos que lutar. Não dá pra ficar em casa tomando água gelada. O que vai acontecer depende de nós, depende de nós. E nós vamos dizer para eles, como hoje foi dito, nós ainda estamos aqui também. Nós também estamos aqui para resistir a tudo que está sendo feito, a esse arbítrio da nossa justiça”.
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